Atenção: perturbação de sossego
A nossa língua é rica e nela encontramos diversas palavras para — tentar — expressar a gama infinita de fluidos oriundos do nosso espírito. Algumas singelas, outras versáteis, como a forma revolta. O caráter polivalente de revolta apura os usos e contextos, sem que a sua essência se perca, produzindo um instigante percurso. Seu fluir abre perspectivas de sentimento, ação e nomeação no mundo, dando vazão a expressões importantes. Se concebida como um sentimento, a revolta surge enquanto indignação provocada por uma situação tida como injusta por aquele que a sente. No entanto, ao observar o seu sentido de ação, ela se torna um combustível de insubmissão, fazendo com que nos posicionemos diante de uma circunstância. Assim, desvela-se um trajeto extraordinário catalisado por essa forma: da fagulha à compreensão e reação.
Excepcional, sim, porque nem sempre evoluímos para uma atitude diante de uma inquietude, mesmo ela sendo legítima. E urgente. Como a greve por professores na USP.
Apropriar-se do nosso sentimento de oposição, de cólera, significa criar uma via de transformação, afinal, toda revolta pressupõe cinesia, faz parte da sua natureza. E que assim seja.
Setembro
Para este mês, pedimos para que vocês nos relatassem sobre o sentimento e a ação, quando finalmente saímos do estado de tolerância e passamos ao ato. Em O QUE TE REVOLTA?, temos uma contextualização primaz da greve que hoje vivenciamos, evocando o sentimento de revolta e inflamando sua pujança. O poema ao relatar o sentimento questionador e contrariado do eu-lírico em sua reflexão metafísica na busca – e entrega – do poema, inquieta quem o lê. Nóis contra eles acidifica a temática com um diálogo sarcasticamente elaborado. HORA EXTRA nos agracia com o gênero dramático e encena a passagem do sentimento à ação de revolta. Repletos de sonoridade, se por um lado Rest in Power O’Shea Sibley questiona a distância material entre indivíduos de um mesmo grupo, por outro prisma, Nós por Nóiz, de mesma autoria, destaca a irmandade diante da adversidade num canto unívoco. ’’ ’’ discute impetuosamente a valência de sentimentos entendidos como negativos, tentando encontrar a forma expressiva ideal, para além da imobilidade e resignação. Crônica de uma paulistana falsa relembra a cada frase uma rotina insuportável que consome uma citadina estrangeira. E mais: na coluna Túnel do Tempo, com O que pode a literatura? Ou dois vinténs para a papisa Joana, encontramos a exploração de assuntos substanciais acerca da linguagem e literatura, ao mesmo tempo em que a equipe é convidada ao instigante desafio de responder à pergunta: “o que pode, afinal, a Literatura?”.
Textos nesta edição
Fala memo!
Eai, td certo? A Nossa Língua quer trocar ideia, mas pra esse papo acontecer cê precisa chegar junto também. Se a revista será feita das inúmeras vozes (dissonantes) da nossa querida Letras, sua presença é vital!
Então, pensa com carinho! Manda no nosso forms aquela rima guardada na gaveta, aquele texto top que cê quer ver o pessoal discutindo, uma análise de um filme mucho loco, um poema esquecido nas notas do cel… Bota pra circular as ideias! Não é tão difícil assim, vai.
Vem que a gente tá te esperando, beletrista!
Equipe editorial
Cibele M Brotto - Editoração
Bruna Silva - Revisão
Colaboração:
Attílio Braghetto
Guilherme Faber
Livia Bernardes