HORA EXTRA

POR

Dentinho

— A gente tem que dar um jeito nessa brincadeira! — Disse um trabalhador.
— É, realmente a coisa tá estranha. Tô até fazendo serviço que é pros caras do andar de cima fazer. Por acaso eles vão fazer o meu? — Respondeu um outro.
— Mano, eu tô ligado nesse trampo aí… Chato que só a po…
— Demais. Dar o serviço dos outros pra gente eles querem, aumentar nosso salário já é outra história…
— Acho que a gente devia se organizar pra conversar com o supervisor. Não acho certo essas coisas que eles andam fazendo com a gente. Só essa semana, já fiz seis horas extras contra minha vontade e ainda é quarta-feira. Sempre que tá quase na hora de ir embora o supervisor joga um monte de coisa pra eu fazer e fala pra eu ficar a mais, sendo que não posso. Se tivesse banco de horas nessa empresa eu teria direito a uns três meses de folga, de tanto trabalho que esse cara me dá. — Comentou Lúcia, até então calada.
— Eu percebi isso também. Os cara sacaneia muito e esse supervisor aí é pior que o Diabo — Retrucou o primeiro trabalhador.
— Ele é o Diabo e a gente tá trabalhando no inferno — Disse o segundo.
— Eu só não me demito e busco outro emprego porque acabei de comprar esse celular e tenho que pagar as parcelas — Comentou Lúcia.
— Eu tenho que pagar a escola dos meus filhos. Se não fosse isso, eu já tinha vazado — Acrescentou Mário, o segundo amigo.
— As contas lá de casa são o que me prendem aqui. Tenho que alimentar minha família… — Colaborou Joelinton.
Entra na copa bem de mansinho o autoritário funcionário-supervisor:
— E aí, galera… 5 minutos aqui, já!! Hoje a gente tem bastante trabalho pra sair. Vocês conseguem ficar um pouco a mais?
— Hoje não dá. — Responderam os três, em coro.
— Que falta de sangue, hein? — Disse o supervisor.
Faltando 15 minutos para o fim do expediente ele traz mais trabalho para os três trabalhadores, mas em vão. No fim do expediente, todos vão embora para suas casas.
Amanhã será outro dia que inevitavelmente chegará.