A tua confissão, eu quero
Em um texto de saudades é impossível mentir. Esses textos não têm um tipo qualquer; são sempre confissões. Textos sobre o vazio ou perda não exprimem a falta, necessariamente. A saudade, pelo contrário, demanda apelo e entrega e por isso é espinhosa. E que sorte a nossa termos essa palavra. Signos são arbitrários, mas nesse jogo duplo o significado foi atado a um significante específico e, só assim, nenhum outro pode ser o mesmo. Nem em outras línguas. Azar do resto, a saudade é nossa. No entanto, ela é melancólica, como um troféu dúbio: tipo ter sentido o prazer de ver o Lula presidente com o Alckmin de vice. Brincadeiras à parte, rir pode ser uma das poucas saídas em face da presença colossal da saudade, pois para senti-la, você precisa experimentar a dor provocada pela falta. Ela implica um desejo de retorno, uma viagem de volta. Não é sobre superar ou simplesmente se lembrar sem se tornar vulnerável ao seu poder, mas sempre estar refém do seu incômodo.
Maio
Nesta edição da Nossa Língua, pedimos para que vocês nos levassem nesse caminho regresso a fim de revivermos histórias juntes. O poema “revolve” invoca o desejo lancinante provocado pela falta. “Paroxítona, sete letras, três sílabas” infunde um olhar reflexivo sobre a saudade, e apesar do tom meditativo, aproxima–se de “Conselho de vó”, já que similarmente enaltecem a potência reconstrutiva da saudade, proveniente da força de nossa ancestralidade. Em “Lilás”, vemos impressa a grandeza da saudade que de tão invasiva, é impossível de ser ignorada. “Náufrago” nos leva à uma viagem em alto mar, na qual as memórias dançam boas lembranças como uma alucinação em um eu-lírico sem rumo. Já em “Baile”, o eu-lírico dança sozinho suas memórias sem a presença de seu estimado par. A saudade aparece amarga como um trago em “Cigarros”, diferente de “reconhecença”, que nos traz um depoimento de resignação dócil sobre as lembranças marcantes que geram saudade inevitavelmente, por seu valor inestimável. “do que antes era algo belo” retrata o lamento da perda e os resquícios de uma despedida não dita. “Um dia” nos conta sobre as idas e vindas do percurso típico da saudade, como um caminho circular em direção ao almejado esquecimento que ainda escapa. “A biblioteca” revela o espectro de uma vida eternizada nos livros e outros objetos da casa, como um oferecimento afetuoso. Oferecimento no qual também experienciamos em “Dedicatórias”. Por fim, “Como vai você?” expressa o turbilhão de sentimentos gerados pela ausência e a batalha interna para seguir em frente.
Contamos também com as colunas: “Túnel do tempo” e “Ângulo”. Na primeira, trazemos um convite à rememoração de produções culturais passadas como a literatura, música, moda, objetos, obras, programas de TV e qualquer coisa que você possa imaginar, desde que tenham ocorrido há, pelo menos, uma década. Em seu lançamento, falamos sobre o “bichinho virtual”. Já a coluna “Ângulo” é composta por textos que relatam desde impressões pessoais até análises críticas das referências culturais de vocês sobre as mais variadas produções como livros, filmes, eventos e manifestações artísticas em geral. Neste mês, trazemos o relato sobre um show da banda O Grilo em “sábado, 11 de dezembro de 2022”.
Textos nesta edição
Fala memo!
Eai, td certo? A Nossa Língua quer trocar ideia, mas pra esse papo acontecer cê precisa chegar junto também. Se a revista será feita das inúmeras vozes (dissonantes) da nossa querida Letras, sua presença é vital!
Então, pensa com carinho! Manda no nosso forms aquela rima guardada na gaveta, aquele texto top que cê quer ver o pessoal discutindo, uma análise de um filme mucho loco, um poema esquecido nas notas do cel… Bota pra circular as ideias! Não é tão difícil assim, vai.
Vem que a gente tá te esperando, beletrista!
Equipe editorial
Cibele M Brotto - Editoração
Bruna Silva - Revisão
Colaboração:
Attílio Braghetto
Guilherme Faber
Lana Messias
Livia Bernardes