Grito das vísceras
No cerne de nossa natureza, há aquela pulsão sutil – ou não – que nos impulsiona a desejar mais do que meramente necessitamos: de insosso já basta o cotidiano. No banquete protocolado da existência moral, existe essa fome que transborda a necessidade e busca a demasia.
Dizem-nos que o simples sacia, que o básico tem o necessário para nos nutrir e energizar. Desejamos mais chocolate, mesmo quando um pouco já basta. E não só: esperamos que ele venha em papel brilhoso, com forma e gosto específico que a gente jura que tem (e se pá um presentinho dentro).
Implicaram-nos, ao longo de toda nossa existência, que esse desejo inato pelo deleite é nada mais do que mero pecado da carne. Poluição do intelecto e grito das vísceras. Mas o que caralhos fazemos com essa sede insaciável? É uma fome que nos consome, uma voracidade que nos impele a devorar indiscriminadamente, sem considerar as consequências. Essa ânsia que move, às vezes se manifesta como resposta urgente do corpo para expelir o que não cabe muito bem. Afinal, egocêntricos, queremos mais, queremos para nós, queremos tudo.
Àqueles cujo deus é o estômago e o terreno abastece a alma, a perdição.
Se ser humano implica dar voz à gana e assumir perder-se ocasionalmente entre o desejo e o excesso que adoece, prostramo-nos frente à uma moral indigesta, vomitando nossos excessos e vestindo nossas extravagâncias meio duvidosas, porém deliciosas. Aceita uma sobremesa?
Março
Nesta edição de março, pedimos para que vocês extrapolassem o desmedido e os excessos que permeiam nossas vivências, subvertendo a gula e a gana em expressões viscerais. “h u n g r y” oferece-nos a transfiguração de imagens nascidas de uma modernidade indigesta e fragmentada enquanto “Impureza” explora a fragmentação da moral, subvertendo o que se entende por pecado da carne em experiência estética. O poema “Banquete do tempo” metafora a voracidade humana em controlar o tempo e transcender suas limitações. Em “Restaurante”, provoca-se uma intrigante relação entre morte e alimentação que, ao invés de nutrir, traz consigo uma carga de violência e desassossego. “a Boba” evoca um desejo ardente e insatisfeito frente à fome por conexão e afeto, já “Tenho fome de…” descreve uma singular busca para saciar um vazio – se é que ele pode ser saciado.
Judys, artista visual e fotógrafa, assina a ilustra que exprime com cores intensas e traços acentuados, o impulso do mais deleitoso pecado capital: a Gula. Conheça seu trabalho: @judysdn e @ju_dysart.
Textos nesta edição
Fala memo!
Eai, td certo? A Nossa Língua quer trocar ideia, mas pra esse papo acontecer cê precisa chegar junto também. Se a revista será feita das inúmeras vozes (dissonantes) da nossa querida Letras, sua presença é vital!
Então, pensa com carinho! Manda no nosso forms aquela rima guardada na gaveta, aquele texto top que cê quer ver o pessoal discutindo, uma análise de um filme mucho loco, um poema esquecido nas notas do cel… Bota pra circular as ideias! Não é tão difícil assim, vai.
Vem que a gente tá te esperando, beletrista!
Equipe editorial
Alyson Freitas - Revisão
Bruna Silva - Revisão e Editoração
Cibele M Brotto - Editoração
Colaboração:
Attílio Braghetto
Cássia Marques
Gabriela Menezes
Guilherme Faber
Livia Bernardes