h u n g r y .

POR

Lucas Boldo

a carne já não me sacia
nem a morta, nem a tua
as palavras não têm mais açúcar
as pílulas descem secas
sinto azia ao trocar de música
as infinitas fotos são todas intragáveis
excessivamente abundantes
tenho fome de algo novo
longe de tudo que conheço ou conhecerei


Quero respirar a fumaça mais tóxica que houver e reclamar meus pulmões sãos ouvir os gritos, plantar o licor das festas e colher a falsa polpa da modernidade novos programas, propagandas, sorrisos cheios de lentes um punhado de luzes pixeladas, nupérrimas, distrair mente e estômago ficar estufada de um nada recém-adquirido – que quero renovar em 12 parcelas gozar com recortes desfigurados, peitos, coxas, costelas, corpo nenhum engolir o tempo que deslizo com os dedos para o fundo das minhas olheiras ver-me espelhada no escuro, resignando-me à minha fome