Restaurante

POR

Otávio de Sousa

Em um bom restaurante
Só pode haver certa quantia de morte
Morte dentro dos pratos
Morte dentro das panelas
Morte dentro das bocas
Mas não pode haver
Morte das bocas que comem morte
Pois todos sabem que em restaurante em que se morre
Não se come
Dá má sorte
É desconfortável ver sangue
Mancha rubra que dá ânsia
E ânsia vira palavras
Palavras viram indignações
Deus me livre da morte
Desde que seja uma morte
Desimportante
Afinal, um bom e respeitável restaurante
Não pode ter sido uma cena de crime
E um crime não pode existir
Em uma sociedade protestante
Antes que matem alguém em um restaurante
Restaure a guilhotina de antes
Nada melhor para abrir o apetite
Do que uma decapitação
Na praça central