15a Edição - AVAREZA

A mesquinhez de hoje é a solidão de amanhã

julho 2024

A mesquinhez de hoje é a solidão de amanhã

Um dos debates que mais dão pano pra manga recai sobre a dicotomia entre a generosidade e a Avareza: seriam os humanos generosos ou egoístas por natureza? Em um sentido estrito a avareza está relacionada ao dinheiro e bens materiais, mas tomada em sentido amplo, pensando em apego ou mesquinhez, podemos observar como ela pode se infiltrar em diversas cenas. Por falar em dinheiro, para se justificar o Capitalismo, por exemplo, ouve-se comumente que as pessoas seriam egoístas em última instância, sempre protegendo o que lhes pertence. Por outro lado, a generosidade humana sempre surpreende em momentos difíceis, ainda mais em uma época em que se privilegia tanto o individualismo. Realmente, o terreno é mais propício para a mesquinhez do dia a dia, para o apego ao que temos materialmente e para uma ideia de que não podemos perder nada e isso nos afeta de maneira assombrosa. A ideia da perda material está tão presente nas pessoas e em suas mentes, tão forte nos seus sentimentos, que parece impossível pensar em um mundo economicamente diferente do que vivemos, como se nada tivesse existido antes do Capitalismo e nem poderá existir depois. De fato, podemos deixar de existir por conta de uma exploração desenfreada dos humanos e da natureza, porque o medo provocado por essa ideologia impede as nossas ações, mas, antes de tudo, sabota a nossa imaginação. Vemos como a Avareza penetra nas pessoas por meio de uma ideia egoísta em seu princípio: o capitalismo sempre foi sobre poucos terem muito e muitos terem pouco ou nada. E, por mais absurdo que isso possa parecer, muitos justificam essa ilógica, inclusive aqueles que são contra a Avareza e prezam a Caridade. É, no mínimo, difícil o quão podemos ser humanamente contraditórios.

Comentando o medo da perda, questiono: se os produtos e os serviços estão todos aí sendo produzidos pelos trabalhadores, se há comida para alimentar a todos e tecnologia para resolver boa parte de diversos problemas climáticos que afetam as pessoas, em que se baseia esse medo?

Por vias de outros sentidos, quando falamos de amor, a mesquinhez pode ser muito ingrata, pois ela nos poupa de certas dores de cabeça em um primeiro momento para deixar-nos sozinhos depois. No caso, falo da escassez emocional que nos priva de estarmos em generosidade com as pessoas ao nosso redor, pois nada pode ferir um sentimento de “alto valor próprio” que impede uma entrega sem garantias de retorno, natural nas tentativas amorosas. É impossível se relacionar sem ceder ou entender simplesmente que às vezes numa relação um dá mais e o outro menos, outra hora as posições se invertem, em alguns momentos isso se equaliza e há momentos ainda em que ninguém tá em condições de dar coisa alguma. E tem mais, estamos carentes de expressões mais justas em relação ao amor, pois absolutamente tudo parece calcado numa ideia de perda-ganho, os filhos e a velhice dos pais como um consórcio; o casamento como uma sociedade pra multiplicar e proteger os bens; “porque eu me sinto desvalorizado nessa amizade”; “eu perdi anos da minha vida nesse relacionamento”; o marketing pessoal; “investindo naquela pessoa” etc. O vocabulário construído para enquadrar sentimentos usando palavras sobre dinheiro é extenso, baseado em um sistema de cálculos exatos de perda ou lucro, no entanto esmiuçar uma linguagem sensível, arduamente perseguida quando nos deparamos com a nossa complexidade e a da outra pessoa, parece cada vez mais um devaneio. A linguagem dos sentimentos é imprecisa, tem resto, diametralmente oposta à linguagem financeira de característica pragmática.

Nessa dicotomia entre dinheiro e amor refletimos suas distâncias, pois onde há amor existe generosidade, onde há Avareza não existe nada.

Julho

Neste mês de Julho, pedimos que vocês tirassem o escorpião do bolso e compartilhassem seus textos conosco. Na carta “Com amor, a burguesia!”, sentimos a crítica à hipocrisia que se entende a todos nós, sem exceção; No poema “Avessa Avareza” o eu-lírico em sentimento de contenção não deixa revelar sua verdadeira cobiça carnal; e por fim, “Linha Ouro” atualiza nosso passado colonial vivo no contemporâneo.

Iara Crioula, artista plástica e grafiteira, assina a capa da edição de julho com nosso gato avarento. Confira seu trabalho em @iara_criou_la.

Textos nesta edição

Fala memo!

Eai, td certo? A Nossa Língua quer trocar ideia, mas pra esse papo acontecer cê precisa chegar junto também. Se a revista será feita das inúmeras vozes (dissonantes) da nossa querida Letras, sua presença é vital!

Então, pensa com carinho! Manda no nosso forms aquela rima guardada na gaveta, aquele texto top que cê quer ver o pessoal discutindo, uma análise de um filme mucho loco, um poema esquecido nas notas do cel… Bota pra circular as ideias! Não é tão difícil assim, vai.

Vem que a gente tá te esperando, beletrista!

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Equipe editorial

Alyson Freitas - Revisão textual
Bruna Silva - Revisão literária
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Colaboração:
Attílio Braghetto
Gabriela Menezes
Guilherme Faber
Livia Bernardes