Meditação

POEMA
POR

Rafael Mendes de Barros

Deus: já, se é vencer nesta vida vã
preso ao orgulho grão necessário preço
e em arrogância mor me verter o afã…
— Sei, não mereço

tal legado, e o preço não pago ter;
e ainda que eu tão bem fatigado pela
solidão, me fosse, a tentar viver,
bem sem sorvê-la,

uma vida, então, já abnegada, voto-lhe
minha oferta ao altar para que me traga
teu alento sobre, qual dor porquê
não se viu, chaga

que se houvera, sim, só no amor pudera
dar-se à cura e a mesma amizade, enfim,
frente a monstruosa e malsã Quimera,
pôr-lhe o seu fim;

pois aquele que hoje se nega ao afeto
teu pendor, talvez até tarda em ter
prova do amargor, o sabor discreto
que a soberber

vosso ser, o rouba; de Exu se sabe:
— Quão lhe dá em graça tão para o humilde,
tão pra o afortunado o que qual lhe cabe…
Nisso, Matilde,

fica o adágio meu para ti: — Chibata,
bate, embata e tanto castiga no ermo
ou em mansão, paupérrimo ou rico mata,
pune o soberbo;

pensas que sem pé nem cabeça digo
tudo o que te digo? Vês, Iemanjá,
Pomba-gira pregam-nos peças, e ido,
pensa, quiçá:

— Já gozemos, em ora, no beijo ou abraços,
— foge a mocidade, e esvai, que é ligeira —
perto está tristeza que em lida, aos laços,
faz-se certeira.