10a Edição - Expectativa

Fingir que não sente não vai te proteger

dezembro 2023

Fingir que não sente não vai te proteger

Falar de expectativa tem sido difícil. Encorajar qualquer tipo de sentimento em relação ao desconhecido se tornou um equívoco na opinião de muita gente. No intuito de proteger a si e ao outro, as pessoas acreditam que para algo ser encarado de forma adequada é preciso desestimular qualquer inquietação em relação à coisa para sermos “racionais”. O significado de expectativa se trata de uma espera, mas o problema não é esperar, o engano é esperar por uma coisa específica. Em vez de nos preocuparmos com a espera, natural em qualquer empenho, deveríamos nos preocupar com a espera por algo específico das situações nas quais estamos envolvidos. A frustração é resultado de uma espera particular e não de uma espera confiante.

Parece que, toda vez que alguém adverte que ter expectativas é ruim, ao mesmo tempo reforça que devemos afastar aquilo sobre o qual não temos controle, pois toda vez o conselho aparece diante de uma situação em que não sabemos o que vai dar. E eu até entendo essa preocupação: os dados, as estatísticas, os problemas estruturais preveem um bocado de coisas desse mundo. Mas nem todas. Sorte a nossa. Se fosse possível prever tudo, nada mais teria graça. Ninguém gosta de saber o ponto alto do filme antes de assistir. Ou pior, sem querer, me parece que tencionamos cada vez mais acreditar no destino. E, quem sabe, em um deus que o escreva - ele se chamaria algoritmo, no caso. Assim como na Bíblia está previsto o apocalipse, seríamos então cegamente religiosos sobre o nosso futuro?

O destino é coisa previsível e fatal. Enlaçados em seu tear fatídico, a resignação diante o karma faz mais sentido, pois nada podemos mudar diante do trágico inevitável.

Quem conhece o espiritismo sabe do paradoxo destino versus livre-arbítrio. Calibrar o limite entre um e outro é o eterno movimento em busca da temperança, assim como o equilibrista na corda-bamba: a tendência é permanecer no meio. A expectativa funciona como um motor para agirmos no mundo e se torna necessária para sonharmos e criarmos novas realidades. Sem ela não tem por que levantar da cama. Ultimamente a sensação é de que a cultura e as pessoas têm imaginado apenas futuros distópicos, negando o infinito de possibilidades de antemão. Há quem acredite que é mais fácil morar em Marte do que superar o capitalismo, vai entender. Esse fatalismo seria produto da nossa razão ou da nossa desconexão com o que nos faz pulsar?

Em vez de uma espera particular que fecha as possibilidades em um modelo único de satisfação, a esperança só pede um momento um pouco melhor que o anterior. Confiar nos sentimentos e explorar sua intensidade implica se deixar sentir, mas lidar com o nosso coração é uma prática, não precisa condenar seus anseios. Afinal, viver é lidar com os sentimentos.

Desejar faz parte da nossa mentalidade na existência; certas coisas só podem ser feitas se forem concebidas na mais ardente vontade. Se apropriar dos nossos afetos nos transforma, para, quem sabe, sermos capazes de criar um novo paradigma para a nossa vida e para o mundo.

Dezembro

Para encerrar as nossas edições mensais de 2023 sobre sentimentos, eis a expectativa.

Textos nesta edição

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Eai, td certo? A Nossa Língua quer trocar ideia, mas pra esse papo acontecer cê precisa chegar junto também. Se a revista será feita das inúmeras vozes (dissonantes) da nossa querida Letras, sua presença é vital!

Então, pensa com carinho! Manda no nosso forms aquela rima guardada na gaveta, aquele texto top que cê quer ver o pessoal discutindo, uma análise de um filme mucho loco, um poema esquecido nas notas do cel… Bota pra circular as ideias! Não é tão difícil assim, vai.

Vem que a gente tá te esperando, beletrista!

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Equipe editorial

Cibele M Brotto - Editoração
Alyson Freitas - Revisão

Colaboração:
Attílio Braghetto
Bruna Silva
Cássia Marques
Frederico Nunes
Gabriela Menezes
Guilherme Faber
Livia Bernardes