O rapto da razão

POEMA
POR

Frans Amorim

Tempestuoso como os dilúvios de março
Naufrago entre desejos e amores
Os naufrágios que ajudei a me empurrarem
Às profundezas de meu furtivo ser

Uma Helena, bela, bela Helena, me monta o cerco
Seria a de Troia?
A mulher que nos ensinou que todo amor
É sangue, é guerra, é fantasia, é morte e é também conquista

Para o coração apaixonado, cabe uma vida inteira num único dia
Bem soube Ulisses, o traidor e o traído
O costurar obsceno de Penélope, feito e refeito
Fio a fio costurando pele com pele

Minhas epopeias trocam o heroico do alto
Por algo de baixo que seja heroico
Não haverá mais Penélope esperando meu traiçoeiro e cigano Ulisses

Continuarei a viajar até que, de navio em navio, Poseidon me roube
Libertaremos a sábia e exausta Atena
A sempre-mãe, a sempre-protetora
Pedem outra sabedoria essas formas de viver
Outras presenças.