Caspita

POR

Brunno R. Sousa

Sinceramente, estou com raiva. Do que? Deus há de saber, porque eu decerto não sei, e olha que sei de muitas coisas, mas ultimamente tenho andado tão perplexo e injuriado com minha própria mente que falho constantemente em percebê-la. Está aqui, quase intacta, perfeitamente usada e em terríveis ótimas condições, boa o suficiente para funcionar dentro de meu corpo que não é bom o bastante para tê-la, e disso tire suas próprias conclusões. O ponto é que estou fulo! Por quê? Como eu bem disse, Deus há de saber, mas eu? Eu me encontro vítima de mim, de minha fúria, chora ó deusa a cólera do pobre coitado que sou, que tanta morte trouxe a si mesmo, que tanto ódio infundado deixou à tona com suas palavras inflamadas. Falho finito filho de finados. Me engano, no caso, minha mente me engana, luta contra mim, maldita criatura sedentária, me faz cruel, frenético, exigente, certo estava Cesário Verde, pois me vejo agora maluco, insano, doente.

Falha introdução. Certo, me deixe começar mais uma vez. Sinto raiva, mas não consigo entender se é de mim mesmo, do mundo, da moda, dos modos, das mentes. Minto, eu sei muito bem o que estou sentindo, mas me faltam palavras para explicar o infinito abismo que é se enraivecer por nada. O abismo, o nada, a noite, à noite, o infinito abismo, as infinitas palavras, mas que merda, mas que inferno, mas que caspita! Claro, me vejo cego, cego de raiva, e então escrevo, vejo a infinidade do céu escuro e escuto ao fundo minha mente se precipitar, ou seria a chuva? Me inundo em pensamentos explosivos e vigio as estrelas para que não saiam do lugar, controlo o véu noturno e vejo a vida, vejo a vela, vejo nada, beijo ela, sinto calma. Pela primeira vez em tanto tempo sinto calma, e ela contrasta minha raiva, a deixa vermelha em um mar azul, sangue na água.

Me aprofundo em um mar nem um pouco complexo, e entendo com facilidade a fluidez da vida, das coisas, do mundo. Chego ao fim de minhas forças formais e minha forma mental se expande além do que existe em mim de mais obscuro. Digo palavras difíceis, faço rimas fáceis, insisto em aliterações preguiçosas para que alguém, em algum lugar, possa achar graça, mesmo que não seja de verdade. Olho para a folha e se passaram horas, o nada se tornou alguma coisa, respira e berra na minha frente, e em minha mente vivi toda sua história. A raiva, ela se foi, e só Deus há de saber o que era de início, mas agora que vive expressa em minhas palavras, sinto que já é seguro voltar.