12a Edição - FALSIDADE

Falsear, um vetor de distâncias

abril 2024

Falsear, um vetor de distâncias

Malvista, porém rotineira, a falsidade está mais presente em nossas vidas do que gostaríamos. Isso porque é feio ser falso, não pega bem. Contudo, somos falsos por querer, sem querer e até por necessidade. Afinal, dá pra ser sincero o tempo todo? Parece meme, mas dizer tudo o que pensamos sem atenuar um pouco a crueza dos nossos pensamentos nos faria francos demais e ser diretos e sinceros é visto, muitas vezes, como rispidez. Ou, como no linguajar popular, o temido sincericídio. Tá, mas então queremos que as pessoas sejam falsas com a gente? Às vezes, sim. Existe algo dentro da gente que repudia certas verdades, ou melhor, precisa de muita aprovação. Verdade e aprovação são coisas que não necessariamente andam juntas: se estão unidas, é o máximo, não existe melhor cenário; se há apenas a verdade, isso pode chatear, pois não atenderá a nossa expectativa de aceitação; mas somente a presença de aprovação é mero engano, uma mentira que a nossa vaidade quer. Essa breve reflexão não é para execrar a falsidade, é apenas para dizer que ela cumpre certo papel nas nossas relações, tanto para com as outras pessoas quanto para com nós mesmos.

Suspeito, porém, se a necessidade de falsidade é algo trivial ou uma muleta para a nossa covardia de encarar certos problemas. Nesse sentido, ela pode vir a servir de uma forma um pouco menos banal e mais capciosa, contra nós. Se falsear intenções deve ser visto como algo bom, então a justificativa da sua utilidade se perderá em qualquer uso. Manipulativo, ludibriador, esquivo… A questão parece apontar para uma falta de implicação pessoal nos problemas que enfrentamos e não na sua atenuação. E, ao tentar resolver conflitos com esse artifício, agigantamos coisas pequenas e tardamos na resolução dos problemas que, no fim, estamos apenas postergando. A certa altura, uma pequena rusga se torna tão enorme e complexa que já montamos todo um exército de defesa contra outra pessoa ou contra o estranho percebido em nós. Talvez seja aí a gênese da fofoca, lugar em que nos escondemos atrás da falsidade…

Falsear se mostra, portanto, um vetor de distâncias. Tanto em relação ao que nós sentimos, na perplexidade de encararmos o que pode existir dentro da gente, quanto em outra pessoa. E, pra curar essa mania pecaminosa não adianta placebo, só uma boa dose de sinceridade. O remédio é dialogar: falar com ternura verdades difíceis nos momentos complicados. Pode não parecer a melhor saída, mas fingir que algo incômodo não está acontecendo é pior.

Dialogar é uma arte, mas parece que estamos cada vez mais distantes e preguiçosos, nos eximindo de tal virtude. Embora possa parecer chocante, podemos falar qualquer coisa que sentimos para outra pessoa de uma maneira afetuosa. Seja no sentido de afeto amoroso e paciente ou firme e equilibrado. Para a nossa benesse, a linguagem nos presenteia com infinitas formas. Nos resta articular palavras que traduzam nossas verdades sem precisar dissimular o que pode nos unir em um contato autêntico.

Abril

No mês do dia da mentira, convidamos vocês para falarem da falsidade, um pecado recém elencado por nossa equipe editorial, mas que sempre fez parte das mazelas humanas. Chuva, aborda o tema com uma construção imagética e campo semântico de clima interior e exterior;Isso não é uma autoficção, apresenta uma escrita brutalmente sincera e dilacerante ao inserir a imagem da ficção/fantasia para, em seguida, refutá-la; Em Transformação merecida, identifica-se um diálogo interessantíssimo com uma visão bem posicionada e declarada com o que já conhecemos com o Kafka; Em Minitratado sobre falsidade: um ensaio mal elaborado, temos a tentativa de conceituar o pecado como se fosse uma conversa despreocupada em que cabe toda magnitude da matéria humana; No poema sangue falso, a autora trabalha os meandros entre a falsidade e a entrega recorrendo ao rubro; bebida salpicada de mentira, traz a denúncia da falsidade declamada com imagens que dialogam e se chocam entre si de maneira única; e, por fim, O Grande Ego, encena uma rotina meticulosa de um jardineiro que manipula e controla seu entorno por detrás de sorrisos gentis.

Iara Crioula, artista plástica e grafiteira, assina a capa da edição de abril, exprimindo com maestria a dissimulação.
Confira seu trabalho em: @iara_criou_la.

Textos nesta edição

Fala memo!

Eai, td certo? A Nossa Língua quer trocar ideia, mas pra esse papo acontecer cê precisa chegar junto também. Se a revista será feita das inúmeras vozes (dissonantes) da nossa querida Letras, sua presença é vital!

Então, pensa com carinho! Manda no nosso forms aquela rima guardada na gaveta, aquele texto top que cê quer ver o pessoal discutindo, uma análise de um filme mucho loco, um poema esquecido nas notas do cel… Bota pra circular as ideias! Não é tão difícil assim, vai.

Vem que a gente tá te esperando, beletrista!

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Equipe editorial

Alyson Freitas - Revisão
Bruna Silva - Revisão e Editoração
Cibele M Brotto - Editoração

Colaboração:
Attílio Braghetto
Cássia Marques
Gabriela Menezes
Guilherme Faber
Livia Bernardes