As sombras silenciosas encobrem
A lenta e sutil metamorfose
De artigo definido, familiar
Para outro indefinido, disforme
Às pressas, escrevi teu nome num papel
Na esperança de guardar algo teu
Mas a água que moveu o moinho
Borrou também a tinta que usei
Os contornos e reviravoltas
Se fundem no papel manchado
Nosso menos-que-perfeito pretérito
Escorre em fios coloridos folha abaixo
E aquele nome, um dia tão querido,
Um nome que esteve
Tanto tempo
Na ponta da língua
Escrito a bico de pena
E apagado com desleixo
com força
com raiva
com desdém
Sempre deixou alguns traços
Resquícios de outrora
Até a folha toda ser arrancada
Dobrada ao meio com força
pra marcar o vinco
Depois aos quartos
pra ficar quadrado
E jogada no lixo.