Nem todo mundo gosta de comer ostra. Mesmo que se coloque limão e sal, para alguns, é um alimento nojento. Eu, por outro lado, adoro comer ostras. Sua consistência é pegajosa, muito molinha e delicada. Para comer sua carne úmida e macia, é preciso encaixar a boca com delicadeza na valva e sugar o seu interior. Ela escorrega pela língua e garganta. Dá para mordiscar a sua carne, mas sem dilacerar a sua pele. Se lutarmos contra o corpo escorregadio, a experiência é empobrecida. No entanto, é comum os brasileiros torcerem o nariz para os frutos do mar. Chamam de iguaria, pensam que é uma comida excêntrica, têm nojo. E, assim, estabelecem uma distância pela via do estranho. Talvez o problema seja a falta de costume de se comer ostras. Aos que apresentei a subestimada, a experiência não foi ruim como imaginavam.
A distância é propícia para que se predomine o desconhecimento. Penso nisso, principalmente quando falamos da vagina. A sua manipulação é desencorajada desde sempre, fazendo com que nem mesmo saibamos como nos tocar de forma prazerosa. A adequação da nossa anatomia ao prazer do outro acontece antes de a conhecermos. E, como o restante do corpo, ela também tem seu modelo de “beleza” e precisa parecer jovem e estreita. Elementos ruins são atrelados ao seu semblante a fim de rebaixar a sua essência, como o “cheiro de peixe”, a menstruação vista como débil, os pelos, o parto. Expressões essas relacionadas, principalmente, ao nojo e ao asco. É interessante porque o sentimento de nojo gera o desconhecimento a partir da ideia de repulsa. Poucos sentimentos são tão eficazes quanto o nojo, pois ele se infiltra de maneira mais justificável. Afinal, quando temos nojo de algo, geralmente entendemos isso como um mecanismo de segurança, um aviso do nosso corpo para preservar a nossa integridade. Nesse caso, fica difícil entender por que a vagina é carregada de repulsa. E, o pior, é que esse estado de ojeriza nutre um olhar tão horrível que logo a violência aparece em formas diversas de violação. Até porque quem vai defender? Muitas mulheres se recusam a tal façanha, se imaginam forçando a barra só por falarem os nomes da dita-cuja.
Criar distância nos faz isolar cada vez mais aquilo que nos incomoda. Sem a devida atenção para a causa do nosso nojo, nos fechamos para qualquer interação possível e fica mais fácil criarmos opiniões equivocadas. Nesse sentido, as produções da cultura sobre sexo em filmes pornô ou até mesmo convencionais, em sua maioria, elucidam esse manejo distanciado da pepeca. Há sempre uma retratação desdenhosa, falta de felação, pouco close. Parece uma etapa que precisa ser feita rapidamente, não só porque o nosso sexo costuma ser enaltecido na frequência mete-mete, mas porque a pepeca não se apresenta como algo saboroso no meio da transa. Seja pra lamber, chupar ou tocar. É visível que ela só é boa em teoria - profunda e inerte. Nada mais é aproveitável ali: as dobras, a viscosidade, a maciez da sua carne tenra.
Em vez da ostra que agrada a poucos, prefiro pensar na pepeca como uma manga-rosa com seu gosto & sumo. Nada melhor do que chupar uma manga, essa fruta popular e querida. Aliás, nada lambuza mais os dedos e a boca do que chupar uma manga. O jeito como gostamos de sorver o seu caldo dá prazer. Desse jeito, a ideia da pepeca se torna menos asquerosa e mais próxima de quem ainda a rejeita e maltrata.
Enfim, que falar sobre pepeca esteja na trivialidade dos nossos papos-furados sem culpa e sem medo dos mistérios embrenhados em suas dobras & profundezas.