Primeira noite,
Está frio em pleno verão.
Talvez eu pegue mais um… Não,
Um cobertor a mais não vai
Aplacar a dor que recai
Em meus ossos quando me deito.
Talvez eu vá dormir direito
Depois de ir mais uma vez
Ao banheiro. Quem foi que fez
O favor de abrir a janela?
Minha mãe, deve ter sido ela…
Mesmo assim não consigo ver
Nada em meu quarto pra poder
Chegar à porta. Já estou
Dando voltas sem parar, ou
Andando reto… Este lugar
Já não parece mais meu lar.
Segunda noite,
Noite chuvosa e barulhenta,
Clima gostoso pra dormir.
O sono vem de forma lenta
E o sonho começa a fluir…
Eu estou em uma montanha,
É noite, e aqui também chove;
Sinto uma sensação estranha
De que alguma coisa se move
Na floresta. Ouço uma voz
Se aproximando por trás,
Das árvores vindo veloz
Com um som ríspido que faz
Eu querer logo me esconder.
Começo a descer a montanha
Rapidamente. Esse ser
Chega perto de mim e apanha
Meus ombros, e quando me viro
Assustado: nada.
Terceira noite,
Já estou quase chegando em casa
Pra poder enfim descansar.
A iluminação aqui é rasa,
Quase não dá pra enxergar
O próprio chão que estou pisando
E os insetos que andam nele.
Com nojo apresso o passo, quando
Vejo uma fissura que expele
Mil baratas na minha direção.
Um desespero em meu íntimo
Me lança em direção à porta
Que não abre, emperra. Por fim sinto
Esses bichos em grande horda
Rastejando pelo chão
Como se fosse em minha própria pele.
A janela também não abre
E já não tem ninguém em casa
Pra poder me ajudar.
Um estalo forte e abafado
Que parece um osso quebrando…
A janela abriu.
Quarta noite,
Vento forte, um assobio
Que quer me fazer companhia.
Há um sentimento febril
Em meu peito, uma agonia
Me soterrando em minha cama.
Me agito, e de pouco em pouco
Arranco da terra o meu corpo.
Ouço alguém que se move,
E sinto que ele pode me ajudar
A escapar desse tormento.
Tento gritar por socorro mas a voz não sai,
Apenas um grunhido horrível;
Me aproximo o suficiente para tocá-lo
Mas, num piscar de olhos, me calo…
Estou sozinho de novo,
E essa floresta tem o cheiro
Do cemitério que eu fui ontem.
Quinta noite,
Eu estou num lugar fechado
Descendo uma escada desgastada.
Cada degrau que eu piso estala
Com um ruído abafado
Que me corrói também um pouco.
No fim dela tem uma porta aberta,
E através, uma sala deserta.
Dentro, uma abominação:
Um braço contorcido de forma inumana
Pendendo do que é agora
Um bocado de matéria que emana
Puro horror em minha direção.
Perco a respiração por um instante,
Pois já vi algo semelhante a isso,
Mas alegre, animado, colorido…
Esses olhos de vidro que nunca vou esquecer,
Pois posso vê-los em meus próprios olhos,
Cravou em meu peito um olhar imortal
Nessa cena que não paro de reviver:
Minha mãe jazia no chão, morta.