Arranca ossos

POEMA
POR

Tiago Torres

Do teor alcoólico da boca faminta
Ao tremular dos membros e pálpebras
Exigindo do terceiro alheio que não minta
Carregando raiva e angústia como marcas

Cravado em meu peito o medo original
Cavalgando em teus seios a liberdade
O terror impresso no mundo sem sal
O cansaço permanente da idade

Ânsia, receio, o jogo valendo a vida
Passos antecipados três movimentos antes
O julgamento do outro não nos dá saída
A porta dos fundos é para os amantes

O arrancar dos ossos na crise aguda
Falta verba para sobreviver
Suplicam à fera que não ruja e fique muda
Dinheiro que tem só serve para morrer

Investimento psicografado
A dor de todo trabalhador prenuncia reunião
Depois da marmita fria o seu olho garfado
Cutucar o seu cérebro com o metal da união

Tiago Torres (Camaragibe, 1996) é escritor, realizador cinematográfico e capoeirista. Publicou o livro de poemas Poesias Antropofágicas para Exportação (Editora Viseu, 2021), escreve esporadicamente na revista Ladrão de Fogo. Realizou o curta-metragem documental si amar é viver vivo porque amo você (2021).