Semana passada, visitei um antigo amigo, Arthur, advogado formado com carreira já traçada. Bom homem, ele. E como todo homem digno que se preze, apresentou-me sua adega de vinhos mais caros e difíceis de comprar.
Embalagens com aqueles escritos à mão, imagem bem preservada. Nada de marcas ou manchas, isso estraga a vontade de beber. Que me perdoem os “desconstruídos”, mas quem deseja experimentar algo empoeirado por fora? Admiramos pelos corredores todos aqueles vidros delicados ao toque, enfileirados e imóveis, dispostos para quando a sede do vinho aparecesse.
Mas por falar a verdade, os gostos são quase todos iguais. Suco de uva o qual desce, fica o amargor e vem a sensação quente na garganta. A principal graça está em obter, não em consumir.
É fácil assim julgar pessoas pelas suas coleções de vinhos durante a vida. Os que vestem ternos e são bem engravatados, geralmente têm as melhores e mais bem selecionadas. Arthur se divorciou pela terceira vez, disse querer ir atrás daquela loura de 20 e poucos anos enquanto dava goles incessantes na bebida. Ela tem bons modos, adora vestidos caros, deve ser uma boa moça.
A coleção de vinhos dele? Maior do que nunca.