dizem que amar é doloroso
e se jogam no fogo os apaixonados;
queimam-se por medo
mas também por desejo:
o amor é na linguagem poética
essa chama —
trêmula, cega de si, destruidora —
o amor do poema move homens
fomenta guerras
enlouquece toda a gente
a murmurar pelas esquinas da cidade
ou em campos floridos —
o amor não escolhe coração
para plantar essa semente inflamável
toma um por um em marcha fúnebre
ninguém escapa desse desastre —
porém vive no amor
uma doçura tenra
escondida atrás da chama —
a fogueira ilumina
esse detalhe antes insípido —
delicada garoa fina
do tipo que não te livra do fogo
mas te faz balançar ao redor dele —
é este sabor que procuram os apaixonados
na ponta da língua, suave agrado
ao corpo incendiado
quem sabe um frescor
um alívio do medo
por um instante que seja
uma descoberta silente
clareando o dia.