Ngiyakuthanda

POR

Figo Maduro

ii
me sobra tempo e me desvairo pelo transporte meio que inconsciente de mim mesmo, como um espectro que deixa ectoplasmas pelos livros que abro no metrô e quando menos presto atenção nos sons ao meu redor e nos entes e etc me vejo esperando alguém

apago.

imatéria de quartzo pálido: minha mente

 e acordo de repente longe de tudo no ócio frágil e vejo ela arrastando seus pés nos meus, levando suas mãos geladas ao meu bolso e fazendo murmúrios de fones glotais ingressivos sonoros. cliques.:

- inhá! [ŋ̊]

rimos feito bobos loucos tolos do sentimento mútuo da reciprocidade rouca que se cala em miúdos já que da vergonha faz sua voz

o íntimo é menina universo de esclarecimento; ocorrência de conforto

- então o íntimo é mãe!

- e mãe é tudo que tem sentimento então é também.

e abro agora meus olhos e não sei bem como descrever a verdade e não o real; a linguagem me mata, me seduz, me despreza. eu a desprezo: objetiva burra limitada impositiva! quisera eu só pensar e transmitir! abstrair sentidos e sentimentos e

- eu gosto disso do tato inadequado da sua bochecha encostando na minha. me lembra os tubarões que não querem machucar só sentir e encostam o nariz na gente e lembra? a nossa geração não nasceu mais Gente e por isso eles mordem e matam, não são maus apenas justos

ruim é nós

respiração profunda atestado de coragem tensionando suas mão em meus bolsos para esquentar aproximando e aproximando suas engrenagens e tecnologia! encostando a máquina de respirando nas dobras das minhas máquinas de vendo e de beijando e se debruçando debruçando com o fino tocando da ponta da máquina de suspirando reconhecendo matrizes e trópicos demográficos e geográficos da minha máquina de expressando é um avião ou uma nau e você me mapeando e imprimindo e me roubando me encontrando-me na sua busca às Índias pois amor é matéria-prima e eu desejando

foi essa a primeira vez que fizemos amor que pra mim é mecanismo que pra mim é engrenagem que pra mim é indústria e é necessário humanizar as máquinas - mais simples que as elites - aliás trabalhamos o gozo, o tempo, o sensível e te sinto aqui com seu nariz passando e turistando os campos de centeio e produzindo cercamentos no meu rosto ou criando comunidades autóctones e adquirindo esse meu conhecimento ancestral no nariz e sobrancelhas árabes nos lábios carnudos pretos nos olhos indígenas e na minha pele terrosa e bem que o boiadeiro disse: tá no meu sangue transmitir conhecimento

pois ser amor é sofrer a dor de ser Humano esvaziado de Ser e cheio de desHumano duvidoso esperançoso em seu feitiço e ser amor não deve ser dor amor não deve Ser amor não deve

é

- encosta seu pé no meu, nossa dança monossilábica, nosso caso tateante ou tonteante…

- tediante?

- destoante, matéria fina e cristalizada. encosta seu pé no meu, porque faca no peito é a dor da traição foi o que me ensinou o ponto do terreiro então me ensina segurança…

- ser criança… matéria obscura ou muito Clara; resíduo aleatório de outros resíduos de memória afetiva ou genética

ninguém nunca no mundo em tempo algum nasceu Gente só nasceu e quando foi pra andar só andou

assim é com o amor também

e te segurando o dedão com o meu e nossos pés parindo homens mulheres caboclos católicos macumbeiros indígenas do Nordeste ao Pará à Minas até o Grande ABC

- essa é a segunda vez que a gente faz amor

você só dorme se for assim

eu não durmo

melhor: não acordo e não que viver contigo seja um sonho menos ainda é um pesadelo

só é

e as coisas são o que são serpentes flechas pela terra pele chão

ou quem sabe você é, eu sou… elas não

DITADO: O QUE É QUE NÃO SE EXPLICA MAS SEMPRE SE ENTENDE

o nosso amor no frio ou no calor cansado com esforço ou de saco cheio

delícia do céu dentro do coração e por fora no peito aqui na esquerda ideológica de nós infinito particular. eco de vazio cheio de paixão e na terceira vez que fazemos amor no começo linear do tempo do fio transparente:

- Com você eu me sinto menos Eu e mais Gente.